Os banqueiros mercadores, que perpetuavam uma tradição iniciada no século XIII, nas feiras de Champagne, eram então agentes particulares que possuíam o monopólio da compra e da revenda da dívida internacional (letra de câmbio) dos mercadores comuns. Seu monopólio vinha de sua implantação em todas as feiras da Europa, onde formavam uma rede que fazia deles os intermediários obrigatórios dos outros mercadores. Esse monopólio levou a uma avaliação consensual do preço internacional de cada dívida originalmente expressa na moeda de um só país. Nesse sentido, os banqueiros mercadores, em Lyon, sua capital, criaram no século XVI uma moeda de âmbito europeu.
Ao determinarem o valor internacional das moedas, os banqueiros mercadores entravam certamente em conflito com seus clientes comerciantes, de quem cobravam uma margem de lucro. Mas deviam enfrentar os príncipes, que fixavam, por seu lado, uma cotação oficial para as moedas estrangeiras admitidas em seu país. Muitas modificações e altas de preços nasceram desses antagonismos monetários, exacerbados, além disso, por outras dimensões que confrontavam as atividades financeiras e bancárias no próprio círculo dos banqueiros e mercadores.
Geradora do vínculo social em seu princípio, em virtude da referência comum que institui, a moeda é também perturbadora por seu uso. No que pese à sua transformação em uma nova divindade na Europa do século XVI, a moeda, à imagem e à semelhança do homem que a criou, continua na busca de seus limites.