AS MEDALHAS DE DEBRET EM SUA VIAGEM HISTÓRICA AO BRASIL



Fig. 1 – Primeira medalha cunhada no Rio de Janeiro, em 1820, porZeferino Ferrez, cujo anverso serviu de ensaio para a Medalha comemorativa da aclamação de D. João VI. Bronze - 50 mm (Acervo do Museu Imperial – Petrópolis – RJ). (Estampa n°18 do Catálogo da Viscondesa de Cavalcanti) (Clique para ampliar)

Antecedentes
A Missão Artística Francesa de 1816
A transferência da Família Real para o Brasil, em 1808, teve inúmeras conseqüências para a então Colônia que logo se tornaria um Império. Entre as novidades, podemos destacar, além da vinda de cerca de 15.000 reinóis que acompanharam a Família Real, a Abertura dos Portos, a fundação do primeiro Banco do Brasil, a edição do primeiro jornal oficial (A Gazeta do Rio), a vinda da Biblioteca Real e, posteriormente, da Missão Artística Francesa, em 1816.
D. João (2) em 1815, seguindo as orientações do Conde da Barca (Antônio de Araújo e Azevedo), viu por bem contratar, na Europa, uma equipe de artistas e artífices capazes de levar a lume uma “escola de ciências, artes e ofícios” no Brasil. Para tal mister, o Conde da Barca contactou o então Embaixador de Portugal na França (Marquês de Marialva – Pedro José Joaquim Vito de Menezes Coutinho), que se incumbiu inicialmente da questão, aconselhando-se com o naturalista alemão Alexander von Humbold (1769-1857), que lhe apresentou Joachim Lebreton (1760-1819), antigo chefe da Seção de Museus, Conservatórios e Bibliotecas da França, que fora representante do Governo junto à Administração do Museu do Louvre e Secretário Perpétuo do Instituto de França, Cavaleiro da Legião de Honra, escritor, que se achava destituído de todos os cargos e empregos por ser bonapartista e por ter ofendido o Duque de Welligton e a Inglaterra. O Marquês de Marialva foi sucedido na incumbência por José Maria de Brito, que veio a firmar os entendimentos necessários para a constituição da Missão. Entre os membros da Missão, podemos destacar:
Joachim Lebreton (chefe da Missão)
Jean Baptiste Debret (pintor histórico)
Nicolas Antoine Taunay (pintor de paisagens)
Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny (arquiteto)
Auguste Marie Taunay (escultor)
Charles Simon Pradier (gravador)
Segismund Neukomm (compositor, organista e mestre de capela)
François Ovide (engenheiro mecânico)
Mark Ferrez (escultor)
Zephirin (Zeferino) Ferrez (gravador e escultor)
Constituída a Missão, os mestres partiram do porto de Havre, na França, a bordo do veleiro norte-americano Calpe, em 22 de janeiro de 1816, em direção ao Rio de Janeiro, chegando ao destino em 26 de março daquele mesmo ano. Em 12 de agosto de 1816, criava-se a “Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios”, sendo os artistas contratados por seis anos. Em 1817, teve início a construção do edifício da futura Academia de Belas-Artes, projeto do arquiteto da Missão, Grandjean de Montigny.
A Missão Artística Francesa passou por muitas adversidades, como a morte do protetor da Missão, o Conde da Barca, em 21 de julho de 1817, retardando assim seus objetivos. Em 1819, morreu o chefe da Missão, Joachim Lebreton, sem ainda ter efetuado os projetos que o trouxeram ao Brasil, apesar dos grandes esforços dispendidos. Soma-se a esses fatos a instabilidade política do período, mormente a proclamação da Independência, em 1822.
A inauguração da Academia de Belas Artes deu-se apenas em 5 de novembro de 1826, data do aniversário da chegada de D. Leopoldina ao Brasil (5 de novembro de 1817). Curiosamente, essa foi a última aparição pública da Imperatriz que veio a falecer logo depois.
Como veremos, Zeferino Ferrez gravou, para essa data, uma medalha comemorativa. Na Academia eram ministradas aulas de arquitetura, desenho e pintura, entre outras, conforme os cânones neoclássicos.
Com o tempo, os mestres franceses foram sendo substituídos pelos seus discípulos, que transmitiram às gerações subsequentes os ensinamentos advindos da missão, dando impulso e desenvolvimento às artes plásticas do novo Império que nascia.

Fig. 2 – Reverso da medalha Comemorativa da Aclamação de D. João VI, conhecida por “Senatus Fluminensis”, desenho de Grandjean de Montigny, gravada por Zeferino Ferrez. Foram feitos exemplares de ouro, prata e bronze – 50 mm. (Acervo do Museu Histórico Nacional – Rio de Janeiro). (Estampa n° 19 do Catálogo da Viscondesa de Cavalcanti)(Clique para ampliar)

Jean Baptiste Debret (1768-1848)
Jean Baptiste Debret nasceu em Paris, em 18 de abril de 1768. Seu pai, Jacques Debret, era escrivão do Parlamento de Paris. De família culta e esclarecida, amadora das ciências e das artes. Em 1785, na França, ingressou na Academia de Belas Artes, obtendo, em 1791, um segundo prêmio de pintura com a tela “Régulo voltando a Cartago”.
Durante a Revolução Francesa, o governo, necessitando de engenheiros, escolheu alguns dos alunos mais destacados da Academia para ingressarem na Escola de Pontes e Calçadas para que se dedicassem ao estudo das fortificações. Debret foi um dos escolhidos. Com a organização da Escola Politécnica para a formação de engenheiros militares, Debret passou a frequentar seus cursos. Distinguindo-se como aluno de desenho, acabou por lecionar a cadeira.
Voltando à pintura, expõe em salões, pinta grandes quadros históricos de assuntos romanos e cenas gloriosas da vida de Napoleão. Com a queda de Napoleão, em 1814, e com a morte do filho único de apenas 19 anos, Debret caiu em grande melancolia. Foi então convidado a lecionar pintura, na Academia Imperial de Belas Artes de São Petersburgo, pelo Czar russo Alexandre I.
Entretanto, Debret recebeu convite similar da Missão organizada por Lebreton a pedido de D. João. Debret preferiu os trópicos à fria São Peterburgo, chegando ao Brasil juntamente com a Missão, como vimos, em 26 de março de 1816. Durante sua permanência aqui, realizou diversos trabalhos, sendo condecorado por D. Pedro I, com o oficialato da Ordem de Cristo. Viveu no Brasil durante 15 anos, durante os reinados de D. João VI e D. Pedro I. Retornou à pátria em 25 de julho de 1831, a bordo do navio de guerra Durance.
Na França, reuniu o material que vinha coletando sobre o Brasil desde 1821 e publicou a célebre e brilhante “Voyage pittoresque et historique au Brésil” (Viagem pitoresca e histórica ao Brasil), em 3 volumes, entre 1834 e 1839, com 508 páginas de texto e 156 estampas litografadas no estabelecimento dos irmãos Thierry. A edição limitouse a 200 exemplares.
Somente após um século do lançamento do último volume da edição princeps, é que essa obra foi traduzida para o português, isso em 1949, por Sergio Milliet. Vejamos os apontamentos de Rubens Borba de Moraes, que dirigiu a edição brasileira dessa obra:
“Debret passou à posteridade menos pelos quadros que deixou e pela atividade de professor de pintura que exerceu, do que em virtude da publicação de sua “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil”. A crítica brasileira não recebeu a obra com muito entusiasmo. Pelo contrário. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro fez-lhe críticas severas. Os veneráveis historiadores acharam chocante que se pintassem costumes de escravos e cenas da vida popular com tanto realismo. Entretanto, passado um século, é justamente aquilo que se criticou que mais elogios merece e que torna o livro de Debret um documento de valor incomparável para o estudo da época em que viveu entre nós. Elogiado unanimamente, há muito que se tornou raro e sobretudo caríssimo. É talvez das obras sobre o Brasil, publicadas no século XIX, uma das que maior preço alcançaram. Não teve edições posteriores à primeira. Somente agora, um século depois do aparecimento do seu último volume, é que sai, em segunda edição integral e fiel, nesta Biblioteca Histórica Brasileira”. (in, Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. 2ª edição, Tradução e notas de SergioMilliet. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1949, p. s/n°)."
No que diz respeito à numismática, a obra de Debret nos brinda com duas pranchas, a de n° 31 (Moedas brasileiras de diversas épocas) do volume 2 e a de n° 17 (Primeiras medalhas cunhadas no Brasil), do volume 3.

Fig. 3 – Anverso da medalha de Inauguração da Academia Imperial de Belas Artes, gravada por Zeferino Ferrez. Foram feitos exemplares de ouro e prata – 45 mm. (Acervo do Museu Imperial – Petrópolis - RJ). (Julius Meili, Estampa n°6 e n° 24 do Catálago da Viscondesa de Cavalcanti). (Clique para ampliar)

Zeferino Ferrez (1797-1851)
Zeferino Ferrez nasceu em Saint-Laurent (França), em 30 de julho de 1797. Foi aluno de escultura e gravura da Ecole des Beaux Arts (Escola de Belas Artes) de Paris, desde abril de 1810.
Chegou ao Brasil com o irmão Mark Ferrez, em 1817, agregando-se posteriormente à Missão Artística (1820).
Foi o primeiro medalhista do Brasil, além de escultor, gravador e professor. Segundo Taunay, gravou as seguintes medalhas:
- Primeira medalha de bronze cunhada no Rio de Janeiro - 1820.
- Medalha da Aclamação de D. João VI - 1818 (mandada gravar pelo Senado da Câmara,
por isso conhecida com “Senatus Fluminenses”) - 1820.
- Medalha de prêmio da Escola do Ensino Mútuo - 1825.
- Medalha da inauguração da Academia de Belas Artes - 1826.
- Medalha do prêmio instituído por D. Pedro II para o alunos da Academia - 1836.
- Medalha da fundação do Instituto Histórico e Gegráfico Brasileiro.
- Medalha comemorativa do Casamento de D. Pedro II com D. Tereza Cristina - 1843.
- Medalha comemorativa de José Bonifácio de Andrada e Silva.
- Medalha da Junta de Comércio.
- Medalha da fundação da Sociedade de Medicina, atual Academia.
- Medalha de reorganização da Escola Médico-Cirúrgica.
- Medalha de bronze, ampliação da medalha “Senatus Fluminensis”.
Somam-se às medalhas e outros trabalhos realizados por Zeferino Ferrez, a abertura de uma fábrica de papel (a segunda do Brasil) e a abertura dos cunhos da “Peça da Coroação”.
Faleceu, juntamente com a esposa, em 1851. Foram vítimas de envenenamento.

Fig. 4 – Reverso da medalha de Inauguração da Academia Imperial de Belas Artes, gravada por Zeferino Ferrez. 1826 – 45 mm. Reproduzida da obra de Julius Meili, Estampa n°6. (Clique para ampliar)

As Medalhas Brasileiras representadas por Debret
Os primeiros apontamentos da numária concernentes ao Brasil?
Indaga-se se os apontamentos de Debret sobre as medalhas e moedas se constituem na primeira abordagem atinente à numismática brasileira. Haverá algum outro tratado, anterior à obra de Debret (ou seja, anterior a 1839), que discorra de alguma forma (mesmo que sutil) sobre numismática brasileira?
Excluem-se dessa consideração a legislação, ou seja, textos de índole legal sobre o assunto, eis que mesmo sendo úteis ao estudo da numismática, não a integram na acepção do termo, ou seja, não são estudos sobre as moedas, apenas descrições de índole monetária.
Como se sabe, as primeiras moedas cunhadas no Brasil foram batidas pelos holandeses nos anos de 1645, 1646 e 1654, durante o Domínio Holandês. Foram cunhadas moedas de ouro no valor de III, VI e XII florins (ou ducados) com datas de 1645 e 1646 e moedas de prata no valor de XII, X, XX, XXXX soldos. Dessas últimas, apenas a moeda de XII soldos é considerada verdadeira, sendo as demais consideradas, pelo grande numismata Kurt Prober, “bonitas fantasias feitas posteriormente, no fim do século XIX”.
Os portugueses vieram a cunhar as primeiras moedas no Brasil somente 50 anos mais tarde, em 1695, após a criação da Casa da Moeda da Bahia, em 1694. As moedas cunhadas em 1695 foram: 2$000 e 4$000 réis de ouro e $20, $40, $80, $160, $320 e $640 réis de prata.
Acreditamos que o mais antigo tratado a mencionar moedas brasileiras foi o de Gerard van Lonn, “Histoire métallique des XVII Provinces des Pays-Bas, depuis l´abdication de Charles Quint jusqu´à la paix de Bade en MDCCXVI.”, editado pela primeira vez em Haia (Den Haag), em 1726.
Como foram moedas cunhadas pela Companhia da Índias Ocidentais (WIC ou GWC), foram incluídas naquele tratado.
Passamos a transcrever a legenda da página 283 da obra de Van Loon, onde ele apresenta as ilustrações dos florins da Companhia das Índias Ocidentais, vejamos:
«La prémiere est douze francs, la seconde de six, & la troisieme de trois. Sous les Chiffres Romains que expriment leur valeur, on voit cette Légende Hollandoise: Geoctroyeerde Westindische Compagnie L´Octroi dont il s´agit ici avait été accordé à cette Compagnie le 1 de Juin 1621 ; & à cause de pertes qu´elle avait souffertes, elle avait été assistée par les Etats de la somme de septensmille francs. Au Revers de tous les trois on voit l´inscription que voici: BRASILiae ANNO 1646.»
Em língua nacional, temos:
«A primeira é de doze francos, a segunda de seis, e a terceira de três. Sobre a cifra romana que exprime o valor, vê-se a seguinte legenda em holandês: Geoctroyeerde Westindische Compagnie. (3).
A concessão aqui tratada havia sido acordada a esta Companhia em 1 de junho de 1621; e por causa das perdas que havia sofrido, ela fora assistida pelos Estados de soma de setenta mil francos. No reverso de todas as três vê-se a seguinte inscrição: BRASILiae ANNO 1646.»
A obra foi editada pela primeira vez em 1726 em holandês e entre 1732-1737 em francês.

Fig. 5 – Anverso da moeda de XII soldos de prata de 1654, ilustração da obra de Gerard van Loon, “Histoire Métallique des XVII Provinces des Pays-Bas”, 1732-37. (Clique para ampliar)

As primerias Medalhas cunhadas no Brasil?
Debret intitula a prancha n° 17, do Vol. III, de “As Primeiras Medalhas Cunhadas no Brasil” Seriam essas a primeiras medalhas cunhadas no Brasil? A resposta, ao que tudo indica, é negativa. Como aconteceu com as moedas, bem como com os bilhetes, cabe a primazia aos holandeses.
As primeiras medalhas cunhadas no Brasil foram oferecidas a dois comandantes holandeses, são eles: a Someren do navio Elisabeth e a Overcamp do Vergulde Valk (falcão). O fato deu-se em virtude de, no dia 22 de junho de 1646, terem esses dois navios chegado da Holanda com provisões após um longo cerco à capital do Domínio Holandês no Brasil.
Os sitiados, a fim de perpetuar a memória do acontecimento, fizeram cunhar as medalhas em ouro para serem oferecidas aos Comandantes dos dois navios acima nominados.
Segundo Joan Nieuhof, apresentavam a seguinte legenda em holandês:
“Door de Walk en Elizabeth
Is het Reciff onzet”
(pelo falcão e o Izabel foi o Recife salvo)
O historiador José Gonçalves de Mello, na Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco (1976), escreveu:
“Cunhadas no Recife, essas duas medalhas de ouro, foram, como os Ducados de 1645, as primeiras de sua espécie batidas no Brasil.
Segundo Nieuhof, ostentavam elas um dístico rimado em holandês:
“Door de Valk en Elisabeth
Was het Recife ontzet”
Netscher informa, em Les Holllandais au Brésil (Os Holandeses no Brasil), p. 206, que a legenda era:
“Door de Valk en Elisabet
is het Recif ontzet”
Outra legenda atribuída a essas medalhas (4) é a seguinte:
“Pernambuco ontzet
Door de Gulde Valk en Elizabeth”
O paradeiro dessas medalhas é desconhecido, bem como suas características.
As legendas das medalhas e das moedas cunhadas pela Holanda, geralmente, eram em latim, como todas as moedas cunhadas no Brasil de 1694 a 1889. Como vimos acima, a legenda dessa primeira medalha era em holandês, fato incomum para a época.
A Prancha n° 17 de Debret
Debret apresenta no terceiro volume de sua obra, na prancha n° 17, as “Primeiras Medalhas Cunhadas no Brasil” (ilustrações) e, como vimos, na verdade, tratam-se das primeiras medalhas cunhadas no Rio de Janeiro. Vejamos:
Primeira Medalha cunhada no Rio de Janeiro

Fig. 6 - Primeira medalha cunhada no Rio de Janeiro – 1820 Gravador: Zeferino Ferrez. Bronze - 50 mm. (Clique para ampliar)

Ano: 1820
Anverso: Na orla, a legenda: JOANNES. VI D. G. U. R. PORT. BRAS. ET. ALG. REX. No campo : busto de D. João VI, à esquerda, com manto, descoberto e com uma trança do cabelo atada junto da nuca com um laço. Ao peito, a insígnia da Ordem do Tosão de Ouro, pendente do respectivo colar. Sob o corte, o nome do gravador: Z. (Zeferino) FERREZ e o milésimo: 1820.
Reverso: Dentro de uma coroa feita com dois ramos de louro, atados com um laço, a inscrição em seis linhas horizontais (em francês): 1RE MÉDAILLE/FRAPPÉE À RIOJANEIRO/PRESENTÉE A. S. M. T. F /D JOÃO VI/PAR ZEPHIRIN FERREZ/ AN1820. Entre as extremidades dos ramos, uma coroa real. (Estampa n° 18 do Catálogo da Viscondessa de Cavalcanti)
Obs.: Ao que menciona Jean Baptiste Debret (Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. São Paulo: Livraria Martins, Tomo II, 1949, p. 156), D. João VI somente usou o uniforme real de gala no dia de sua aclamação, ainda assim sem a coroa, em virtude do costume estabelecido desde a morte de D. Sebastião, na África, em 1580. D. Sebastião, dizem, foi levado ao céu com a coroa à cabeça e deve trazê-la novamente a Lisboa. Por isso, foi ela colocada ao lado de D. João VI, sobre o trôno.
Medalha Comemorativa da Aclamação de D. João VI

Fig. 7 - Medalha Comemorativa da Aclamação de D. João VI , 1818 (gravada em 1820). (Clique para ampliar)

Gravador: Zeferino Ferrez
Reverso: desenho de Grandjean de Montigny
Metal: Ouro, prata e bronze – 50 mm
Ano: 1820 (1818)
Anverso: Igual ao da “Primeira medalha cunhada no Rio de Janeiro”.
Reverso: Fachada de um templo grego, constituído de um frontão triangular onde figuram as armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, entre ramos de louro. O frontão assenta-se sobre quatro colunas dóricas. Ao lado da escadaria, à esquerda e à direita, sobre pedestais, duas estátuas aladas, representando, respectivamente, a História e a Poesia. No centro, Minerva, de pé, segurando uma cornucópia com o braço esquerdo, no ato de laurear o busto de D. João VI, colocado num pedestal (no desenho de Debret, essa imagem aparece invertida).
No exergo, na horizontal, a inscrição latina: JOANNI. SEXTO. SENATUS./FLUMINENSIS. SEXTO./ FEBR. ANNI. DOM./ 1818. (Estampa n° 19 do Catálogo da Viscondessa de Cavalcanti)
Obs.: O desenho do reverso é do arquiteto Grandjean de Montigny que se inspirou em umas das construções ornamentais (o templo de Minerva), erguidas no Rio de Janeiro pelo Senado da Câmara, para os festejos da Aclamação de D. João VI, nos dias 6,7 e 8 de fevereiro de 1818. Essa medalha serviu de modelo para a fundição de duas outras medalhas, nos anos de 1820 e 1821, no Arsenal Real do Exército, “para se conhecer a qualidade do bronze” e tendo, no anverso, o busto de “ElRei” e as mesmas legendas. No reverso há as seguintes inscrições: 1ª FUNDIÇÃO/D´ARTILHARIA EM/6 DE DEZEMBRO/DE 1820.
Luis Maria do Couto d´Albuquerque, em Memórias da Academia Real de Ciências de Lisboa (1865), páginas 80/81, nos informa que existem exemplares dessas medalhas na Academia Real de Ciências de Lisboa, sendo que a Medalha da Aclamação de D. João VI é de prata, cujo peso é “13 oitavas e ½ e 12 grãos”.
Medalha da Fundação do Império do Brasil – 1822

Fig. 8 - Medalha da Fundação do Império do Brasil – 1822. (Clique para ampliar)

(Coroação de D. Pedro I)
Gravador: Zeferino Ferrez
(Coroação de D. Pedro I)
Gravador: Zeferino Ferrez
Anverso: Na orla, a legenda: PEDRO I IMPERADOR DO BRASIL. No campo: busto do Imperador, à esquerda, com manto. Sob o corte, o nome do gravador: Z. FERREZ. Reverso: A inscrição em oito linhas horizontais: PETRO I° / DEF. PER. EM 13 DE 8 / ACCLAMADO EM 22 MAI / E / COROADO IMPERADOR / DO BRAZIL / NO I° DE DEZEMBRO / 1822. Entre as extremidades dos ramos, uma coroa imperial.
Obs: Não se conhecem exemplares.
Medalha da Inauguração da Academia Imperial de Belas Artes

Fig. 9 - Medalha da Inauguração da Academia Imperial de Belas Artes – 1826. Metal: Ouro e prata - 45 mm. (Clique para ampliar)

Ano: 1826
Anverso: Na orla, a legenda: PEDRO I IMPERADOR DO BRASIL. No campo: busto do Imperador, à esquerda, com manto. Sob o corte, o nome do gravador: Z. FERREZ. Reverso: A inscrição em sete linhas horizontais: PETRO PRIMO / BRAS. IMPERATORI / PERP. DEFENSORI / INAUGURATA / ACADEMIA B. ARTIUM / D. / MDCCCXXVI circulada de dois ramos de louro, atados com um laço. (Estampa n° 6 do Catálogo de Julius Meili e n° 24 da Viscondessa de Cavalcanti)
Obs.: São raros os exemplares nos dois metais.
Medalha da Reorganização da Academia de Medicina e Cirurgia Fluminense – 1826

Fig. 10 - Medalha da Reorganização da Academia de Medicina e Cirurgia Fluminense - 1826. (Clique para ampliar)

Gravador: Zeferino Ferrez
Anverso: Efígie imperial?
Reverso: Na orla, a legenda: .ACADEM.MEDICO.CHIRURGICAL.I.FLUM., no exergo, na horizontal, a data: .MDCCCXXVI.
Gravador: Zeferino Ferrez
Ob. Não se conhecem exemplares.
Medalha da Instalação da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro – 1815 (1830)

Fig. 11 - Medalha da Instalação da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro – 1815 (1830). (Clique para ampliar)

Anverso: ?

Reverso: Alegoria, no exergo, na horizontal, a legenda: SOCIEDADE DE MEDICINA / DO / RIO DE JANEIRO / 1815
 

Gravador: Como vimos, Taunay informa que Zeferino Ferrez gravou a “Medalha da fundação da Sociedade de Medicina, atual Academia”, a que tudo indica trata-se desta medalha.

Obs.: Não se conhecem exemplares.

Jean Baptiste Debret representou seis medalhas em sua obra, sendo que de três delas não se conhecem exemplares, sendo talvez este o seu único testemunho. Melhor sorte não tiveram as “primeiras medalhas gravadas no Brasil”, quais sejam, aquelas presenteadas aos dois comandantes holandeses, que tiveram apenas a legenda, na lembrança.

Finalmente, esclarecemos que a presente matéria trata de assunto com escassa e rara bibliografia, e que não foi possível uma pesquisa mais aprofundada nos Museus onde essas peças se encontram (Museu Histórico Nacional, Museu Imperial de Petrópolis, Museu Paulista e outros), desta forma, pode haver imperfeições no texto. Outro fato digno de nota é que as peças aqui referidas são todas muito raras e de valor histórico importante, encontrando-se dificilmente em coleções privadas.
Bibliografia:
BARROS, Alfredo Solano de. Estudo crítico e doutrinário sobre « Medalhas Militares Brasileiras ». Rio de Janeiro: Anais do Museu Histórico Nacional, 1941, p.85-127.
BITTENCOURT, Gean Maria. A Missão Artística Francesa de 1816. Petrópolis: Museu de Armas Ferreira da Cunha, 2ª edição, 1967, 150p.
Catálogo de Medalhas Comemorativas – Brasil/Da Colônia à Regência. Petrópolis: Ministério da Educação e Cultura, Departamento de Assuntos Culturais, Museu Imperial (Série: Cadernos Museológicos – 1), 1973, 63p.
CAVALCANTI, Viscondessa de. Catálogo das Medalhas Brasileiras e das estrangeiras referentes ao Brasil. Paris: 2ª edição, 1910.
COUTO D´ALBUQUERQUE, Luiz Maria do. Memórias da Academia Real das Sciencias de Lisboa. Lisboa: Typographia da Academia, nova serie, Tomo III, Parte II, MDCCCLXV. (1865).


DEBRET, Jean Baptiste. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. São Paulo: Livraria Martins Editora S.A., Biblioteca Histórica Brasileira n° IV, tradução e notas de Sergio Milliet, 2ª edição, Tomo II, Volume III, 1949, p.187-188 (Prancha 17).

FERREIRA, Lupércio Gonçalves. As primeiras moedas do Brasil. Recife: Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, 1987, 205p.

GONÇALVES, Cleber Baptista. Casa da Moeda do Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Moeda do Brasil, 2 edição, 1989, 937p.

MEILI, Julius. Numismatische Sammlung von Julius Meili. Die auf das Kaiserreich Brasilien Bezüglichen Medaillen (1822 bis 1889). 1890.

(Coleção Numismática de Julius Meili. As Medalhas referentes ao Império do Brasil (1822 até 1889), 1890.

NETSCHER, P.M. Les Hollandais au Brésil, notice historique sur les Pays-Bas et le Brésil au XVII siècle. Le Haye (Den Haag): Belinfante Frères, 1853.

NIEUHOF, Joan. Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil. 1682 (1942).

VAN LOON, Gerard. Histoire métallique des XVII Provinces des Pays-Bas, depuis l´abdication de Charles Quint jusqu´à la paix de Bade en MDCCXVI. La Haya (Den Haag): 1732-1737, 5V.
NOTAS:
1 Esta matéria foi elaborada em homenagem aos 200 anos da transferência da Família Real para o Brasil (única monarquia européia a reinar a partir da América) e aos 70 anos da AFSC – Associação Filatélica e Numismática de Santa Catarina, uma das mais antigas do Brasil.
2 Então Príncipe Regente.
3 Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais – sigla GWC ou WIC – West Índia Compagnia.
Existem outras variações.

Autor: Marcio R. Sandoval (sterlingnumismatic@hotmail.com) - agosto de 2008

Obs.: Esta matéria foi publicada originalmente no Boletim da AFSC  (Associação Filatélica e Numismática de Santa Catarina, n 58, agosto de 2008, p.08-22.

Repulicada no Boletim da SNB (Sociedade Numismática Brasileira – São Paulo) n° 70 de 2013, p.62-74.
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