O JEITINHO BRASILEIRO - Uma prática imunda que alimenta comerciantes de moedas e outros itens nas feiras do rolo do Brasil



Queremos falar pela numismática, mas com algo que pode ser ainda mais abrangente. Você já ouviu falar ou foi vítima do famoso jeitinho brasileiro? Será que você é capaz de entender por que ele é tão enraizado na nossa cultura? Não é fácil de entender, mas pretendo lançar luz sobre esse controverso conceito.


Imagine a seguinte situação: você está no site da Casa da Moeda. Muitas pessoas esperam online para conseguir comprar a moeda dos 200 anos da independência, mas sabemos que há um número pequeno de peças disponíveis ao público. As horas passam, o site está caindo, e ao atualizar e liberar as moedas para compra, logo aparece uma mensagem dizendo que não há mais moedas disponíveis em estoque. 10 minutos se passam após a decepção e alguém oferece nas redes sociais várias moedas que Deus sabe como ele conseguiu.


Nossa situação problema pode ser considerada “hipotética”, mas tenho certeza que já ocorreu algum fato desse tipo ou parecido com alguns de vocês. Pode ter sido no banco, no Banco Central ou em qualquer outro lugar. Parece que sempre existe alguém pronto para “dar um jeito”. Se não fosse assim, o jeitinho brasileiro não seria tão conhecido por nós, não é mesmo? Mas acredite, por mais que o termo esteja na boca do povo, suas origens são mais profundas do que podemos imaginar.


Todos nós temos noção do que é o jeitinho brasileiro pode ser danoso ao próximo em favor de nós mesmos, ou de alguém que conhecemos. No livro “O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros”, Livia Barbosa mostra um pouco sobre o conceito:


“ […] o jeitinho é sempre uma forma “especial” de se resolver algum problema ou situação difícil ou proibida; ou uma solução criativa para alguma emergência, seja sob a forma de conciliação, esperteza ou habilidade. Portanto, para que uma determinada situação seja considerada jeito, necessita-se de um acontecimento imprevisto e adverso aos objetivos do indivíduo. Para resolvê-la, é necessária uma maneira especial, isto é, eficiente e rápida, para tratar do ‘problema’.”


Para entender o presente precisamos observar o passado, onde nossas práticas sociais são profundamente marcadas por ocorrências históricas. Por isso, precisamos buscar nas nossas raízes a origem do conceito. Ao discorrer sobre isso, Sérgio Buarque de Holanda, em seu livro Raízes do Brasil, apresenta o conceito de “homem cordial”. Vale ressaltar que o autor apresenta toda uma contextualização histórica sobre o termo, mas por questões didáticas simplificamos para uma melhor compreensão voltado os esforços ao nosso objetivo.


Em seu primeiro capítulo, Sergio Buarque fala sobre nossas origens ibéricas e sobre as características dos povos da península e mostra que uma característica marcante entre eles era a solidariedade. Esta “existe somente onde há vinculação de sentimentos mais do que relações de interesse – no recinto doméstico ou entre amigos”. Veremos que essa importância dos sentimentos nas relações será uma das características principais do que podemos chamar de “homem cordial”.


Futuramente em nossa história, teremos outros momentos de exploração, como por exemplo, no coronelismo, período em que os coronéis forneciam proteção para as pessoas em troca de voto para determinado candidato. E até utilizarmos o exemplo das feiras do rolo, onde não é diferente. Nelas observamos um local informal, propositalmente distante das autoridades, que oferece certa proteção entre seus participantes para a prática de um comércio obscuro, e que agrega em sua concepção todos os artigos obtidos sem a mínima procedência, e muitas vezes, em claro desvio de conceito moral.


A psicologia comportamental para o jeitinho brasileiro, mostra que nossos comportamentos geram consequências e que, dependendo do resultado que eles trouxerem, esses comportamentos podem cessar ou continuar ocorrendo futuramente. Vamos supor que você é preso ao vender moedas roubadas na feira do rolo, mas ao alegar não ser o autor do delito, acaba sendo liberado por se tratar de um crime de receptação (crime não violento), e assim, nada de grave lhe acontece. Você verá que a justiça não funciona como deveria e que aquela brecha lhe proporciona uma liberação para a continuidade da prática delituosa.  A feira do rolo é um dos vários símbolos da ineficácia da justiça brasileira, promovendo brechas, e estas, aglutinadas, podem ser chamadas de Jeitinho Brasileiro. A lógica percebida na mente humana é bem simples: você faz o que faz porque se sente recompensado e vitorioso. Se você já fez algo errado e foi punido, com certeza será cauteloso e pensará bastante antes de repetir uma ação delituosa.


Existe algum problema em praticar o jeitinho brasileiro? O jeitinho brasileiro é, sem dúvidas, uma característica ruim, mas muito marcante do brasileiro. Revela toda a sua flexibilidade e sua criatividade para enganar as pessoas, pois a “ginga” do brasileiro é mais percebida para o delito do que para o benefício de outras pessoas.


O jeitinho brasileiro pode nos nos trazer coisas boas? Sim, mas nem tudo que é legal é moral, porque no momento em que utilizamos essa prática, certamente estamos procurando uma forma de beneficiar alguém em detrimento dos outro, estaremos sustentando uma visão negativa de malandragem, e, portanto, prejudicando aquele que deveria ser justamente beneficiado.


Precisamos nos questionar sobre qual é o nosso papel como indivíduos em uma sociedade. Se vivemos em conjunto, temos de encontrar formas de melhorar a sociedade, cuidando e zelando por aquilo que é correto e justo. Ter uma conduta ética e honesta em nosso cotidiano não é uma qualidade, mas uma obrigação de todos. É por conta do Jeitinho Brasileiro que muitas coleções são roubadas e vendidas nas várias feiras do rolo espalhadas pelo Brasil.


Seja honesto! Não compre moedas, notas ou qualquer outra coisa que seja roubada ou tenha origem duvidosa. Diga não ao jeitinho brasileiro.


VEJA NOSSO RELATO SOBRE COLEÇÕES ROUBADAS

 

 

 

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