O galeão Santa Maria da Rosa naufragou em 1726 na costa brasileira após uma grande explosão. Dos 700 tripulantes apenas três sobreviveram. Centenas de arquivos e bibliotecas foram pesquisados, milhares de documentos paleógrafados, lidos e relidos, dezenas de estudos oceanográficos foram analisadas; e muito capital foi investido na tentativa de se reconstituir os fatos. Lançada ao mar na Ribeira das Naus em 1715, com suas 1.100 toneladas, esta fragata de três mastros, 56 metros de comprimento e armada com 70 canhões teve um papel importante na frota de Don João V. Seu primeiro grande feito foi a sua vitoriosa participação na batalha do Cabo de Matapan (atualmente cabo Tenaro na Grécia) em Abril de 1717.O Rei para satisfazer a um pedido que lhe fizera o Papa, enviou em socorro da Santa Sé ameaçada pelos turcos, uma poderosa esquadra comandada pelo Conde de Rio Grande. Nesta batalha, envolveram-se duas esquadras: uma formada a pedido do Papa Clemente XI, na qual estavam sete embarcações portuguesas e 30 galeras de Malta, Veneza e dos Estados Pontífices; a outra esquadra, formada por 54 galeras, pertencia ao sultão Ahmed de Constantinopla, que tentava expandir seus domínios no Mediterrâneo.Após quase um dia de batalha, os turcos foram derrotados, tendo perdido diversas embarcações e mais de 2000 homens, enquanto que a frota católica perdeu apenas 300. Ao retornar vitoriosa para Portugal, a Santa Rosa passou a realizar diversas missões de comboio e anti-pirataria, tendo sido finalmente destacada para proteger as frotas anuais que vinham para o Brasil trazendo mercadorias da Metrópole e voltavam carregadas de riquezas. Estas riquezas eram produtos da terra como o açúcar, o fumo e couros, além de ouro em pó, em lingotes ou moedas e pedras preciosas. Por volta de 1720, o Brasil era o maior produtor de ouro do mundo (dele partiam para Portugal cerca de 25 toneladas por ano) e aqui estavam instaladas três Casas da Moeda: na Bahia, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
No ano de 1726, mais precisamente no dia 20 de março, uma
frota de 18 embarcações parte do Brasil. Dela faziam parte duas embarcações de
guerra, a Nossa Senhora de Nazaré e a Santa Rosa, esta última comandada pelo
capitão Bartholomeu Freire de Araújo. O comboio chegou a Salvador após dois
meses e quatro dias de navegação. Passaram-se outros dois meses e meio nos
quais foram feitas as operações de descarga e carregamento. Além das
embarcações que para cá haviam vindo de Portugal, gradativamente outras 37
acabaram se reunindo à frota de retorno.
O volume de gêneros transportados para a metrópole era enorme: cerca de
27 mil rolos de tabaco, 13 caixas de açúcar (estas por si só já valiam uma
fortuna na Europa), além de 20 mil couros, milhares de cocos e, um grande
número de arcas e baús de jacarandá. Nestes baús e arcas, cerca de 10 toneladas
de moedas de ouro, além de ouro em pó e barras, diamantes e pedras
semi-preciosas. Esta enorme fortuna foi dividida entre duas embarcações de
guerra, cabendo à Santa Rosa 6,5 toneladas que faziam parte do quinto da Coroa
Portuguesa. A frota foi organizada e partiu de Salvador no dia 24 de agosto de
1786, exatamente 3 meses depois de sua chegada. Logo no dia seguinte, um forte
temporal atingiu a frota que acabou sendo dividida em dois grupos. Como o
temporal continuou por alguns dias, a Santa Rosa, comandando um grupo de
navios, tentou prosseguir e voltar para sua rota normal, mantendo-se a cerca de
6 léguas ao largo da costa.Duas semanas após zarpar, dia 6 de setembro, a
tragédia acontece. Não são claros até hoje os reais motivos da explosão que
provocou o naufrágio mas, a hipótese mais aceita é a de que o capitão
Bartholomeu Freire teve uma acirrada discussão com o comandante do regimento de
soldados que se encontrava a bordo, e após as Ave Marias, alguém desceu até o
paiol de pólvora, e nele ateou fogo. A explosão deve ter sido tremenda, pois a
quantidade de pólvora que era transportada para ser utilizada nos 70 canhões do
Santa Rosa excedia a 200 barris. Basta lembrar que em 1648, o comandante do
navio português Nossa Senhora do Rosário, bem menor que o Santa Rosa, se vendo
subjugado pela nau Utrecht, ateou fogo em seu próprio paiol de pólvora, no
momento em que a embarcação holandesa se preparava para a abordagem e com a
explosão ambas foram ao fundo.O resultado foi terrível. Dos mais de 700 homens
a bordo, não mais do que duas ou três dezenas devem ter sobrevivido a explosão
e ao rápido naufrágio. Do pequeno grupo inicial de sobreviventes, somente sete,
agarrados a tábuas foram recolhidos no dia seguinte. Os outros acabaram por
perecer vencidos pela fadiga, pelos ferimentos ou pelo ataque de tubarões. As
embarcações restantes chegaram a Lisboa no dia 17 de novembro e dos sete
náufragos resgatados, apenas três concluíram a viagem com vida. A história do
desastre foi imediatamente abafada. Pode-se deduzir dois motivos para o
segredo. A rota pela qual seguiam as frotas anuais era mantida no maior sigilo,
para serem evitados os ataques de piratas ou de nações inimigas. Toda indicação
do local do naufrágio foi mantida em segredo para que não pudesse ser
descoberta a rota utilizada.O segundo e talvez o mais importante, deve ter sido
o fato de que como a frota retornava uma vez por ano à metrópole e era neste
momento em que os cofres da Coroa voltavam a se encher de riquezas, com o
produto dos impostos, principalmente o Quinto Real. Caso o ouro da Coroa não
chegasse, esta seria uma grande oportunidade para especuladores, que receberiam
grandes benefícios em troca de empréstimos ao Rei e para as nações inimigas,
pois o Rei não teria como pagar o soldo de um exército ou aparelhar uma frota,
tornando-se presa fácil aos ataques. A informação foi bem guardada. Apenas no
ano seguinte época que o vice Rei Vasco César de Menezes, em Salvador, soube da
notícia. Mesmo com todo o sigilo, algumas informações foram coletadas por
espiões: um dos documentos de mais fácil acesso em nossos dias encontra-se na
Biblioteca Nacional de Paris. Foi escrito por um espião na Corte de Lisboa e
informa sobre a chegada da frota e sobre o naufrágio do Santa Rosa. Poucos
documentos portugueses da época ainda existem em nossos dias. Grande parte foi
perdida num terremoto seguido de incêndio, que quase destruiu Lisboa em 1755.
Para nós, sobraram algumas cópias, que se encontram em arquivos espalhados em
diversas partes do mundo. Este é um dos motivos que a localização do naufrágio
permanece desconhecida até hoje.É por isso que pesquisadores como Ivo Gouveia,
levam por vezes 10, 15 ou 20 anos, para reunir dados sobre uma única
embarcação. E ele é um dos poucos, senão o único, que possui a posição
aproximada dos restos do famoso e rico navio. Mesmo que a suposta localização
da Santa Rosa por vezes apareça em Pernambuco, por vezes na Bahia, e em outras
na Paraíba, creio que não teremos que esperar muito até que seus segredos e
tesouros venham a ser revelados. O
tesouro do Santa Rosa pode alcançar mais de 700 milhões de dólares em
valores atuais. Além do ouro, jóias, pedras preciosas e semi-preciosas também
faziam parte da carga. As primeiras moedas foram cunhadas em janeiro de 1695,
com a letra monetária “B’. Esta Casa da Moeda foi transferida para o Rio de
Janeiro em 1698 mas uma nova foi instalada em Salvador no ano de 1714. Os
equipamentos que saíram da Bahia foram utilizados para a criação da Casa da
Moeda do Rio de Janeiro, com sua letra monetária “R’. Estes mesmos equipamentos
foram removidos para Pernambuco em 1700 e, de lá retornaram para o Rio, desta
vez definitivamente, em 1702.A Casa da Moeda de Minas Gerais foi criada por
Carta Régia em 19 de março de 1720, em Vila Rica, atual Ouro Preto. Começou a
cunhar em fevereiro de 1725, com sua letra monetária “M” e foi fechada em 1734.
As moedas que foram cunhadas nos anos de 1725 e 1726, traziam três letras
monetárias: “B “ da Bahia, “R’ do Rio de
janeiro, “M “ Gerais. Nestas três casas da moeda foram cunhadas milhares de
moedas em ouro, nos valores de 400, 1.000, 2.000, 4.000, 10.000 e 20.000 réis.
Sua cunhagem foi feita com ouro 22 quilates e a maioria desta moedas estão no
fundo do mar com a Santa Rosa.