AUTÓGRAFOS NAS CÉDULAS BRASILEIRAS - Identificação em cédulas de Réis (PARTE 1: IMPÉRIO)

Nos primeiros contatos que tive com os catálogos das cédulas brasileiras, logo as de réis despertaram a minha atenção pela beleza das vinhetas, rosáceas, cores e tamanhos variados. Ainda leigo no assunto, achava curioso aquelas “assinaturas” dadas horizontal ou diagonalmente nas cédulas. Eu acreditava que tais assinaturas deixavam as cédulas feias, considerando-as verdadeiros “corpos estranhos”. À medida que fui me aprofundando no conhecimento numismático brasileiro, tive acesso às primeiras pistas do que se tratavam as assinaturas. Logo descobri que se tratava de autógrafos que determinavam a autenticidade da cédula e as tornavam legalmente emitidas.

Diante disso, duas perguntas me estimularam a chegar até aqui: Quem eram as pessoas que autografaram as antigas cédulas de réis? Será possível conhecer seus nomes?

Este artigo objetiva responder a essas questões. Nesta direção, proponho apresentar este trabalho em partes, pois será matéria relativamente extensa. Apresentarei o estudo sobre a atribuição de autógrafos das cédulas da seguinte forma: 1) Réis – Império; 2) Réis – República, nessa ordem. Os autógrafos e chancelas nas cédulas do Banco do Brasil, da Caixa e Conversão e da Caixa de Estabilização, serão abordados futuramente, pois a pesquisa estão ainda em andamento.

No decorrer da revisão bibliográfica sobre o assunto, Florisvaldo dos Santos Trigueiros, em Dinheiro no Brasil, assim definiu autógrafo:

“AUTÓGRAFO – Assinatura de próprio punho. Empregada durante muito tempo como elemento de autenticidade, [...] continuou a ser usada mesmo depois do Brasil Independente, chegando até aos nossos dias. Os autógrafos, a princípio só de pessoas categorizadas, passaram, depois a ser dados, gratuitamente por qualquer funcionário da Caixa de Amortização[...]” (grifo meu) (TRIGUEIROS, 2008, p. 164,).

Julius Meili, em sua célebre obra O meio circulante no Brasil (1903), foi o primeiro pesquisador a identificar as chancelas (autógrafos impressos) que

foram apostas nas cédulas de 500 e 1000 réis emitidas em 1893 e 1892 (R072 e R074b). Meili identificou a chancela de Antônio Arnaldo Vieira da Costa, que à época era Tesoureiro chefe da Seção do Papel Moeda na Caixa de Amortização. Sua chancela também foi impressa em várias das cédulas dos bancos particulares, emissores entre 1890 e 1893.

Também, Trigueiros mencionou, ainda que indiretamente e sem citar nome, a chancela de Antônio Arnaldo Vieira da Costa ressaltando que: (...) as notas emitidas pelos bancos [privados] traziam, desde 1889, a chancela do Tesoureiro da Caixa de Amortização seguida da assinatura do Diretor do banco emitente”. (TRIGUEIROS, 2008, p. 165) Posteriormente, nenhuma outra obra (por mim conhecida) abordou o assunto.

Para a realização dessa produção textual, fiz pesquisas nos arquivos digitais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e da Center of Research Libraries. Neles, encontrei o Almanak Laemmert, cujos volumes eram anuais, sendo o primeiro datado de 1844. Os volumes disponíveis para pesquisa online na Biblioteca Nacional abrangem o período de 1890 a 1940 e no Center of Research Libraries estão disponíveis os volumes publicados de 1844 a 1889. 

O Almanak Laemmert, dentre inúmeros e interessantes dados, publicava anualmente a relação dos funcionários dos ministérios, da Caixa de amortização (subordinada ao Ministério da Fazenda) e posteriormente das Caixas de Conversão, Caixa de Estabilização e 5º Banco do Brasil.

Para se estabelecer a relação entre autógrafos e funcionários da Caixa de Amortização de forma que possamos minimizar dúvidas, selecionei assinaturas cujas caligrafias são legíveis ou relativamente legíveis. De antemão, informo que alguns autógrafos são ilegíveis, tornando-se difícil a identificação de seus autores. Esse fenômeno ocorre mais entre as cédulas de réis emitidas durante a República.

IDENTIFICANDO OS AUTÓGRAFOS - Nas próximas linhas selecionamos autógrafos em cédulas emitidas pelo Tesouro Nacional durante o reinado de D. Pedro II, até 1889. Quero esclarecer que, dadas as limitações, não apresento todos os autógrafos possíveis: apresento amostras de assinaturas que pude identificar com

facilidade o seu autor. De qualquer maneira, acredito que as cédulas e os autógrafos que ilustram esse artigo certamente darão os primeiros subsídios para obras posteriores. Os exemplos estão dispostos em ordem cronológica e para cada cédula ilustrada, identificarei quem a autografou e a função que o assinante exercia na Caixa de Amortização. Vamos às cédulas autografadas:















CONCLUSÃO - A partir dos exemplos apresentados neste trabalho, podemos perceber que os funcionários da Caixa de Amortização, independente da função que exerciam, estavam autorizados a autografar as cédulas antes de serem lançadas em circulação. Durante sua permanência na Caixa de Amortização, o funcionário autografava vários lotes de cédulas, dos mais diversos valores e das mais variadas estampas. Essa prática continuou após a proclamação da República, em 1889, seguindo até 1953, quando os autógrafos foram suprimidos, dando lugar às microchancelas do Ministro da Fazenda e do Diretor da Caixa de Amortização.

No próximo artigo, darei continuidade ao assunto, identificando os funcionários da Caixa de Amortização que autografaram cédulas no período republicano.

Agradecimento: Agradeço ao Sr. João Paulo  Z. Ferreira, pela gentil autorização do uso de imagens de cédulas de sua propriedade.

Bibliografia:

1. Almanak Laemmert: (Almanak Laemmert, 1891-1940)

Biblioteca Nacional Digital Brasil:

http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=313394&pagfis

=121987&url=http://memoria.bn.br/docreader#

Center for Reserach Libraries:

(Almanak Laemmert, 1844-1889) http://www-apps.crl.edu/brazil/almanak

2. Texto:

MEILI, Julius. O meio circulante no Brasil: Parte III: A moeda fiduciária no Brasil de 1771 a 1900. Brasília: Edições do Senado Federal, 2005. Volume 60,

p. 170-176.

TRIGUEIROS, Florisvaldo dos Santos. Dinheiro no Brasil. 3ª edição. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2008, p. 164-165. 

3. Cédulas que ilustram o artigo:

Bank Note Museum:

http://www.banknote.ws/COLLECTION/countries/AME/BRA/BRA-IMP.htm

Brasil Moedas:

http://www.brasilmoedas.com.br

Colnect:

http://colnect.com/br/banknotes

Heritage Auctions:

https://www.ha.com/

Stack’s Bowers:

https://auctions.stacksbowers.com/

Artigo escrito por: Leandro Guimarães Ribeiro

O artigo foi gentilmente oferecido ao site pelo autor. Sua reprodução foi devidamente autorizada pelo mesmo.

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