SÉRIE CRUZEIROS (9ª PARTE / FINAL) – Cruzeiro Real, a curta trajetória do padrão monetário que antecedeu o Real.


Já faz tempo que estamos juntos nessa jornada que nos levou aos diferentes momentos do padrão monetário “Cruzeiro” em suas várias formas. Com precisão, o primeiro artigo desta série foi escrito no dia 22 de abril de 2019, adicionado ao nosso site e também enviado ao Jornal Filacap no dia 25 de maio do mesmo ano. Já estamos em setembro de 2021 e iremos nas próximas linhas finalizar nossa interessante jornada.  

Em nosso ultimo encontro vimos uma grande família do padrão cruzeiro, também observamos o surgimento de uma nota emergencial com cara de comemorativa e finalizamos com uma crise econômica que culminou no impeachment de um presidente.

Nesta reta final abordaremos o padrão monetário “Cruzeiro Real”, esta será a ultima aparição da nomenclatura cruzeiro em um padrão monetário nacional.

Em 28 de julho de 1993, foi editada a medida provisória nº336, determinando um corte de três zeros na moeda, após essa importante alteração monetária, nascia o padrão que Cruzeiro Real. O padrão antecessor do Real.

Em junho de 1993, o país entrava em compasso de estabilização econômica por conta da retirada precoce de um presidente. A inflação chegou aos 30% ao mês, e ali aparecia a figura de Fernando Henrique Cardoso, que assumia o cargo de Ministro da Fazenda em meados de maio do ano de 1993. A principal missão do novo ministro era combater a inflação crescente, associada ao processo de reforma do Estado. O novo ministro ainda iria enfrentar a missão de privatizar estatais e promover a redução dos gastos públicos. Vale lembrar que as medidas não previam um choque inflacionário.

As ações do novo ministro ficaram conhecidas como PAI, Plano de Ação Imediata. Se tratava de um plano de medidas consolidadas, voltando esforços principalmente para a redução de gastos do Governo. O corte orçamentário previsto no PAI foi impactante sangrando áreas como a educação e a saúde. Em julho de 1993, diante de uma inflação acumulada de 500% somente no ano corrente, o plano inicial sofreria uma importante alteração, sendo decretada a adoção de um novo padrão monetário denominado Cruzeiro Real, com o corte de três zeros em relação ao antigo padrão Cruzeiro.

Ainda em julho, houve a redução das alíquotas de importação e, alguns meses depois, foi anunciada a liberalização do câmbio, que passava a flutuar livre da interferência do Banco Central. A persistência do processo inflacionário provocou a aceleração do processo de desestatização das empresas, com vista na privatização. Nesse momento, já circulavam rumores de que um novo conjunto de medidas seria adotado, incluindo uma nova troca de moeda – Cruzeiro Real para o Real –. Sabemos que o Padrão Cruzeiro Real durou pouco, pois logo viria o padrão Real. Tudo envolto em teorias de roubo de ideias e coisas do tipo, mas não iremos abordar aqui as várias linhas teóricas que envolvem a criação do padrão Real. Quem sabe em um outro momento!     

Voltando ao tema, em 26 de junho de 1993, o Conselho Monetário Nacional aprovava as características básicas das primeiras cédulas do padrão, sendo uma de 1.000 (com tema focalizando vida e obra do educador Anísio Teixeira) e outra de 5.000 (com tema focalizando à figura do tipo regional “gaúcho”), cujo lançamento ocorreu somente quando o padrão Cruzeiro Real foi instituído.

Mas ainda era preciso contemplar outros valores faciais nesta nova linha do padrão Cruzeiro Real. Em 1º de agosto de 1993, tem início a vigência oficial do Cruzeiro Real como novo sistema de unidade monetária nacional, com a equivalência de 1.000 cruzeiros para 1 Cruzeiro Real. É previsto então o lançamento e a circulação de cédulas de 50, 100 e 500 mil cruzeiros, carimbadas com valores em cruzeiros reais. Todas postas em circulação até 31 de dezembro de 1993.

50 cruzeiros reais (Carimbadas) – Câmara Cascudo – Circulada de 02-08-1993 a 15-09-1994

100 cruzeiros reais (Carimbada) – Beija Flor – Circulada de 02-08-1993 a 15-09-1994

500 cruzeiros reais (Carimbada) – Mario de Andrade – Circulada de 02-08-1993 a 15-09-1994

CURIOSIDADE: As cédulas de 1.000 (Anísio Teixeira) e 5.000 (Gaúcho) foram aprovadas para entrar em circulação no padrão anterior com o valor facial de 1.000.000 e 5.000.000 de cruzeiros. Algo que sabidamente não ocorreu.

Logo após o lançamento das duas primeiras cédulas a diretoria do Banco Central, usando das suas atribuições, aprovaria os temas que seriam utilizados oficialmente no padrão Cruzeiro Real.

1.000 cruzeiros reais – Anísio Teixeira – Circulada de 1-10-1993 a 15-09-1994

5.000 cruzeiros reais – Gaúcho – Circulada de 29-10-1993 a 15-09-1994

10.000 cruzeiros reais – Rendeira – Cédula que seria suspensa para que fosse liberado espaço para a linha de produção das cédulas do padrão real. – Circulada de 15-04-1990 a 15-09-1994

50.000 cruzeiros reais – Baiana (nota de maior raridade nos cruzeiros reais) – Circulada de 30-03-1994 a 15-09-1994

Em 27 de maio de 1994, a Lei nº 8.880 instituiu a nova unidade monetária nacional, o Real, que passou a vigorar no dia 1º de julho do mesmo ano. As demais cédulas do antigo padrão monetário foram gradativamente recolhidas e a nota da Baiana que pouco circulou, tornou-se objeto de desejo para todos os colecionadores do Brasil, mas principalmente para aqueles que fazem coleção por tipo.

Chegamos ao final da nossa jornada com muitas histórias e conhecimento acumulado acerca de contextos e momentos vividos em nosso país durante as transições monetárias do padrão que por mais tempo esteve presente nas carteiras dos brasileiros. A tecnologia avançou e hoje nos deparamos com o risco de não mais termos em nossas mãos o dinheiro de papel e as moedas metálicas. Estas, permanecerão vivas nos acervos daqueles que bravamente preservam a memória monetária nacional.

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